Representando o Conselho Municipal de Promoção de Igualdade Racial, a professora doutora Gislaine Gonçalves fez o uso da ‘Tribuna Livre’, na sessão ordinária desta terça-feira (19), para falar sobre o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, a ser celebrado nesta quarta-feira, 20 de novembro. O convite foi da vereadora Ana Lúcia Rodrigues.
A professora Gislaine Gonçalves lembrou da importância da data, o primeiro feriado nacional da consciência negra, mas alertou que o país está no mesmo patamar do ano passado quando o assunto é preconceito e intolerância, e que os 134 anos da Lei Áurea “estão ainda muito distantes de um período de reparação de mais de 300 anos de escravidão”.
“Celebrar essa data é dizer que a criança terá um futuro, o adulto poderá ter um trabalho, a mãe poderá ter um espaço para deixar seus filhos, durante seu trabalho, as crianças terão cultura, caminhos de aprendizado, entenderão o seu passado e saberão quem são seus ancestrais”, sublinhou a professora.
Gislaine ressaltou que a Lei federal 10.639/2003 que tornou obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana em todas as escolas brasileiras deveria estar institucionalizada "para que nós descendentes dos ancestrais africanos pudéssemos estar aqui hoje, celebrando essa data com consciência, tranquilidade, amorosidade, reflexão e, principalmente, entendendo quem nós somos”.
Reflexão
Em seu discurso, Gislaine convidou os vereadores à seguinte reflexão: “como podemos ter um país com um sistema que ainda somos a maioria das grandes marcações, infelizmente, da demanda social, de cuidado, da falta de estudo, de cultura, de trabalho, e de várias questões sociais que estão implementadas nesta grande maioria que foi escravizada junto aos seus antepassados e continua com essa marca em seus caminhos?”.
A resposta da oradora foi de que “somente com orgulho, cultura, estudo, educação, poderemos sim, alcançar as marcas dos grandes grupos que dizem ser do primeiro mundo: que é a mudança, termos sim o amparo que é de todos os cidadãos e cidadãs desse nosso país".
"Uma criança na rua, uma criança perdida, um jovem drogado, uma mãe violentada, um jovem morto não é condição de um país em desenvolvimento. Precisamos lutar sim por datas como esta, colocada para que possamos nos orgulhar porque fomos e somos a maior parte de nosso país”, ressaltou.
Esperança
A vereadora Ana Lúcia Rodrigues enfatizou que a data transcende calendários e formalidades pois carrega o peso da história, a força da resistência e, principalmente, da esperança de um futuro mais igualitário, destacando a importância da participação da professora Gislaine e de Cleuza Brechó, também representante do Conselho Municipal de Promoção de Igualdade Racial.
“A presença de vocês não apenas enriquece este momento, mas simboliza a luta de milhares de pessoas que vieram antes de nós. Pessoas que sonharam, resistiram e se sacrificaram para que pudesse estar aqui, falando abertamente sobre igualdade, justiça e respeito. Sua trajetória (Gislaine) como educadora , pesquisadora e militante reflete o compromisso de dar voz àqueles que foram silenciados por séculos”, afirmou Ana Lúcia.
Censo
Números do último Censo do IBGE mostram, pela primeira vez, a população parda e preta é o maior grupo racial do Brasil: 56% da população brasileira, quase 120 milhões de pessoas. No Paraná, de 28,3 % em 2010, são 34,3% autodeclarados pretos e pardos.
A vereadora fez um questionamento se a sociedade “está pronta para honrar esta maioria que, por tanto tempo, foi tratada como minoria”. “Estamos dispostos a olhar nos olhos do passado, reconhecer os erros e trabalhar ativamente para repará-los? O Dia da Consciência Negra nos exige essa postura. Ele não é apenas uma homenagem, mas mais do que isso, um convite – ou melhor, um chamado – à ação efetiva”.
Toda sociedade
Ana Lúcia lembrou que a consciência negra “não é apenas para pessoas negras”. “Ela é para toda a sociedade. Porque enquanto houver desigualdade, uma criança negra precisar ser ‘duas vezes melhor’ para ocupar o mesmo espaço, mulheres negras continuarem sendo as mais vulneráveis em nossa sociedade, e homens negros forem os maiores alvos da violência nesse país, todos nós estaremos falhando como nação”.
Por fim, a vereadora destacou que o “Dia da Consciência Negra não termina à meia-noite, amanhã 20 de novembro”. “Ele precisa ecoar nos outros 364 dias do ano. Ele precisa ser mais do que um feriado, mais do que um evento. Mas um movimento, uma transformação constante”.