“Vocês sabiam que a cada seis minutos uma criança é abusada sexualmente no Brasil?”. Com esta pergunta que a assistente social e gestora da APMIF São Rafael, Rosana Marques, abriu seu discurso durante o uso da tribuna, na sessão ordinária desta quinta-feira (15).
À convite do vereador Italo Maroneze, a gestora enfatizou a importância do cuidado com crianças e adolescentes vítima de violência sexual e o trabalho realizado pela entidade. Lembrou que a criança precisa do adulto responsável, comprometido, para que possa “contar com ele, pois por sua conta, muitas vezes não consegue fazer o relato e cessar com essa violência”.
“Estamos próximos do dia 18 de Maio, Dia Nacional do Combate à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. O Maio Laranja é só um lembrete de que não podemos nos calar. Temos dar voz aos relatos das crianças e adolescentes. Muitas vezes elas são desacreditadas. Essa violência é visível nas ruas, mas é invisível entre quatro paredes”, afirmou Rosana.
O Programa ‘Fazendo a Diferença’ foi criado em 2016 e nasceu devido a grande demanda, por meio de relatos acidentais nos ambulatórios de pediatria. A partir disso, a entidade começou a fazer levantamentos junto ao Judiciário e Ministério Público e constatou uma demanda reprimida para o atendimento dessas vítimas de violência sexual. Na época não existia um atendimento especializado, individual e continuado no município.
O Fazendo a Diferença conquistou o segundo lugar no Prêmio Criança ABRINQ 2022 e atendeu 274 crianças e adolescentes, com quase 3 mil atendimentos individuais continuados. Não são demandas espontâneas e chegam por meio da Defensoria Pública e dos centros de Referência Especializado de Assistência Social (Creas).
Além das vítimas, a entidade atende os familiares. “Não há como uma criança sofrer violência sexual e a família não ser comprometida”. Não tratamos somente os sintomas; nós buscamos romper o ciclo da violência. Sem uma intervenção nesse ciclo, ela continua e essa pessoa vai se casar, terá filhos e não vai conseguir proteger a sua família”, explica Rosana, salientando que o objetivo é transformar esse ciclo em um ciclo virtuoso.
Rosana ressaltou a importância da ‘absoluta prioridade’ do art. 227 da Constituição Federal que estabelece o dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.
“A expressão ‘absoluta prioridade’ não pode ser só um princípio no papel; ela precisa ser vivida na prática, mas os dados mostram que a criança e o adolescente não são prioridade absoluta em nosso país”, ressaltou.
Com o tempo, a entidade observou que apenas o atendimento a vítimas de violência - neste momento são 80 - não seria suficiente, era necessário mais. A prevenção foi a forma encontrada para ampliar o projeto.
Em 2024, foi lançada a campanha “Expansão de Impacto”. Além de Maringá, a mensagem de uma cultura de cuidado e proteção para crianças e adolescentes foi levada para Santa Catarina e Pernambuco. Neste ano o tema é o abuso por meio da internet. “É uma nova demanda na qual as famílias não estão preparadas para lidar”, explica Rosana.
Ao final de sua fala, Rosana fez um apelo. “Faço um convite para que a gente deixe o celular ao chegarmos em nossas casas para ouvir mais nossas crianças, nossos filhos, porque é a partir daí que formamos cidadãos protagonistas que possam realmente ser protegidos. É ouvindo os nossos filhos que vamos criando também multiplicadores”.